Essa mudança radical pode ser vista como uma superação do Ego por Paulo, que deixou de lado sua identidade terrena, baseada no orgulho, no medo e na ilusão, para abraçar sua identidade espiritual, baseada no amor, na fé e na verdade. O Ego, segundo a psicanálise de Freud, é a parte da personalidade que lida com a realidade externa, buscando satisfazer os impulsos do Id (a parte instintiva e inconsciente) e obedecer as normas do Superego (a parte moral e consciente). O Ego é, portanto, uma instância mediadora, que nem sempre corresponde ao nosso verdadeiro ser.
O conceito de Eu superior, por outro lado, se refere à nossa essência divina, à nossa consciência mais elevada, que transcende os limites do Ego e se conecta com a fonte de toda a vida. O Eu superior é o nosso eu real, que possui conhecimentos universais e informações de nossa alma. Ele nos guia por meio da intuição, da inspiração e do insight, e nos ajuda a cumprir nosso propósito maior
Para se conectar com o Eu superior, é preciso silenciar a mente, meditar, orar e se autoconhecer. É preciso também se libertar das amarras do Ego, que nos mantêm presos ao passado, ao futuro, às opiniões alheias, aos apegos materiais, aos conflitos emocionais e às falsas crenças. É preciso, enfim, se render à vontade de Deus, que é a mesma que a do nosso Eu superior.
Paulo foi um exemplo de alguém que superou o Ego e se conectou com o Eu superior. Ele disse: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2:20). Ele também disse: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3:7-8).
Essas declarações mostram que Paulo renunciou ao seu Ego, que se baseava em sua origem, em sua formação, em sua posição social, em sua religião, em seus méritos e em suas obras. Ele reconheceu que tudo isso era insignificante diante do amor de Cristo, que o salvou pela graça e o chamou para ser seu apóstolo. Ele se identificou com Cristo, que viveu em seu lugar, e buscou conhecer a Cristo, que era a expressão máxima do seu Eu superior.